Questionador: Qual é o maior obstáculo que se opõe a
que tenhamos a experiência dessa realidade?
E.Tolle : A identificação com a sua mente, o que faz com que o pensamento se
torne compulsivo. Não ser capaz de parar de pensar é uma aflição terrível, mas
nós não o compreendemos porque praticamente toda a gente sofre do mesmo mal,
pelo que se considera normal. Esse barulho mental incessante impede que você
encontre o reino da quietude interior que é inseparável do Ser. Cria igualmente
um falso eu, obra da mente, que lança uma sombra de medo e sofrimento. Mais
adiante, veremos tudo isso em pormenor.
O filósofo Descartes acreditava que tinha encontrado a verdade mais fundamental
ao fazer a sua famosa afirmação: "Penso, logo existo". Na verdade,
estava a dar expressão ao erro mais básico: equiparar pensar a Ser e identidade
a pensamento. O pensador compulsivo, o que significa praticamente toda a gente,
vive num estado de aparente separação, num mundo insensatamente complexo de
problemas e conflitos contínuos, um mundo que reflete a sempre crescente
fragmentação da mente. A iluminação é um estado integral, de se estar "em
uníssono" e por conseguinte em paz. Em uníssono com a vida no seu aspeto
manifestado, o mundo, assim como com o seu Eu mais profundo e a vida não
manifestada – em uníssono com o Ser. A iluminação não é apenas o fim do
sofrimento e do permanente conflito interior e exterior, é também o fim da
temível escravidão ao pensar incessante. Que incrível é esta libertação!
A identificação com a mente cria um filtro opaco de conceitos, rótulos,
imagens, palavras, críticas e definições que bloqueiam qualquer relacionamento
verdadeiro. Coloca-se entre si e o seu Eu, entre si e o seu semelhante, entre
si e a Natureza, entre si e Deus. É este filtro de pensamento que cria a ilusão
da separação, a ilusão de que existe você e um "outro" totalmente
separado. Então você esquece-se do facto essencial de que, por baixo do nível
das aparências físicas e das formas separadas, você é uno com tudo o que é.
Quando digo que você se esquece, quero dizer que deixa de sentir essa unicidade
como uma realidade evidente por si mesma. Poderá acreditar que talvez ela seja
verdadeira, mas deixa de saber que ela é verdadeira. Uma crença poderá ser
reconfortante. Contudo, é unicamente através da sua própria experiência que ela
se torna libertadora.
Pensar tornou-se uma doença. A doença ocorre quando as coisas perdem o
equilíbrio. Por exemplo, não há nada de errado na divisão e multiplicação das
células do corpo, mas quando esse processo se perpetua à margem da totalidade
do organismo, as células proliferam e surge uma doença.
Nota: A mente é um instrumento magnífico se for usada corretamente. Contudo, se
for usada erradamente torna-se muito destrutiva. Falando com mais exatidão, não
se trata tanto de você usar a mente erradamente – geralmente não a usa de
maneira nenhuma. É ela que o usa a si. É a doença. Você acredita que é a sua
mente. É a ilusão. O instrumento tomou conta de si
Questionador: "Não estou totalmente de acordo consigo. É certo que a minha
mente deambula, por vezes, como acontece com a maioria das pessoas, mas ainda
assim posso decidir usar a minha mente para obter e realizar coisas, e faço-o
constantemente."
E.Tolle : Só porque você consegue resolver um problema de palavras cruzadas ou
construir uma bomba atómica não quer dizer que esteja a usar a sua mente. Da
mesma maneira que os cães gostam de roer ossos, também a mente gosta de se
dedicar aos problemas. É por essa razão que ela resolve problemas de palavras
cruzadas e constrói bombas atómicas. Você não se interessa por nenhuma dessas
coisas. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta: pode libertar-se da sua mente sempre
que o deseje? Já descobriu o botão que a "desliga"?
Questionador: Quer dizer, parar de pensar totalmente? No, não posso, salvo
talvez por alguns breves instantes.
E.Tolle : Então a mente está a usá-lo a si. Inconscientemente identificado com
ela, você nem sequer sabe que é escravo dela. É quase como se estivesse
possuído sem o saber, e por isso julga que a entidade possessora é você
próprio. O começo da libertação é a compreensão de que você não é a entidade
possessora – o pensador. Saber isso permitir-lhe-á observar a entidade. No
momento em que começar a observar o pensador, é ativado um nível mais elevado
de consciência. Depois começará a compreender que existe um vasto reino de
inteligência para além do pensamento, que o pensamento é meramente um pequeno aspeto
dessa inteligência. Também compreenderá que todas as coisas que realmente
contam – beleza, amor, criatividade, alegria, paz interior – têm origem para
além da mente. Começará a despertar.
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Eckhart Tolle ✦ O poder
do agora p19/20
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