segunda-feira, 18 de abril de 2016

O maior obstáculo


Questionador: Qual é o maior obstáculo que se opõe a que tenhamos a experiência dessa realidade?

E.Tolle : A identificação com a sua mente, o que faz com que o pensamento se torne compulsivo. Não ser capaz de parar de pensar é uma aflição terrível, mas nós não o compreendemos porque praticamente toda a gente sofre do mesmo mal, pelo que se considera normal. Esse barulho mental incessante impede que você encontre o reino da quietude interior que é inseparável do Ser. Cria igualmente um falso eu, obra da mente, que lança uma sombra de medo e sofrimento. Mais adiante, veremos tudo isso em pormenor.
O filósofo Descartes acreditava que tinha encontrado a verdade mais fundamental ao fazer a sua famosa afirmação: "Penso, logo existo". Na verdade, estava a dar expressão ao erro mais básico: equiparar pensar a Ser e identidade a pensamento. O pensador compulsivo, o que significa praticamente toda a gente, vive num estado de aparente separação, num mundo insensatamente complexo de problemas e conflitos contínuos, um mundo que reflete a sempre crescente fragmentação da mente. A iluminação é um estado integral, de se estar "em uníssono" e por conseguinte em paz. Em uníssono com a vida no seu aspeto manifestado, o mundo, assim como com o seu Eu mais profundo e a vida não manifestada – em uníssono com o Ser. A iluminação não é apenas o fim do sofrimento e do permanente conflito interior e exterior, é também o fim da temível escravidão ao pensar incessante. Que incrível é esta libertação!
A identificação com a mente cria um filtro opaco de conceitos, rótulos, imagens, palavras, críticas e definições que bloqueiam qualquer relacionamento verdadeiro. Coloca-se entre si e o seu Eu, entre si e o seu semelhante, entre si e a Natureza, entre si e Deus. É este filtro de pensamento que cria a ilusão da separação, a ilusão de que existe você e um "outro" totalmente separado. Então você esquece-se do facto essencial de que, por baixo do nível das aparências físicas e das formas separadas, você é uno com tudo o que é. Quando digo que você se esquece, quero dizer que deixa de sentir essa unicidade como uma realidade evidente por si mesma. Poderá acreditar que talvez ela seja verdadeira, mas deixa de saber que ela é verdadeira. Uma crença poderá ser reconfortante. Contudo, é unicamente através da sua própria experiência que ela se torna libertadora.
Pensar tornou-se uma doença. A doença ocorre quando as coisas perdem o equilíbrio. Por exemplo, não há nada de errado na divisão e multiplicação das células do corpo, mas quando esse processo se perpetua à margem da totalidade do organismo, as células proliferam e surge uma doença.
Nota: A mente é um instrumento magnífico se for usada corretamente. Contudo, se for usada erradamente torna-se muito destrutiva. Falando com mais exatidão, não se trata tanto de você usar a mente erradamente – geralmente não a usa de maneira nenhuma. É ela que o usa a si. É a doença. Você acredita que é a sua mente. É a ilusão. O instrumento tomou conta de si

Questionador: "Não estou totalmente de acordo consigo. É certo que a minha mente deambula, por vezes, como acontece com a maioria das pessoas, mas ainda assim posso decidir usar a minha mente para obter e realizar coisas, e faço-o constantemente."

E.Tolle : Só porque você consegue resolver um problema de palavras cruzadas ou construir uma bomba atómica não quer dizer que esteja a usar a sua mente. Da mesma maneira que os cães gostam de roer ossos, também a mente gosta de se dedicar aos problemas. É por essa razão que ela resolve problemas de palavras cruzadas e constrói bombas atómicas. Você não se interessa por nenhuma dessas coisas. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta: pode libertar-se da sua mente sempre que o deseje? Já descobriu o botão que a "desliga"?

Questionador: Quer dizer, parar de pensar totalmente? No, não posso, salvo talvez por alguns breves instantes.


E.Tolle : Então a mente está a usá-lo a si. Inconscientemente identificado com ela, você nem sequer sabe que é escravo dela. É quase como se estivesse possuído sem o saber, e por isso julga que a entidade possessora é você próprio. O começo da libertação é a compreensão de que você não é a entidade possessora – o pensador. Saber isso permitir-lhe-á observar a entidade. No momento em que começar a observar o pensador, é ativado um nível mais elevado de consciência. Depois começará a compreender que existe um vasto reino de inteligência para além do pensamento, que o pensamento é meramente um pequeno aspeto dessa inteligência. Também compreenderá que todas as coisas que realmente contam – beleza, amor, criatividade, alegria, paz interior – têm origem para além da mente. Começará a despertar.

Eckhart Tolle O poder do agora p19/20

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