sábado, 16 de janeiro de 2016

Reflexões do Guerreiro da Luz

Na medida certa

O guerreiro da luz sabe reconhecer um inimigo mais forte que ele.
Se resolver enfrentá-lo, será imediatamente destruído. Se aceitar suas provocações, cairá na armadilha. Então, ele usa a diplomacia para superar a difícil situação em que se encontra. Quando o inimigo age como um bebê, ele faz o mesmo. Quando o chama para o combate, ele finge-se de desentendido.
Os amigos comentam: “ é um covarde”.
Mas o guerreiro não liga para o comentário; sabe que toda a raiva e coragem de um pássaro são inúteis diante do gato.
Em situações como esta, o guerreiro tem paciência. Logo o inimigo partirá para provocar outros.

No tempo certo

Um guerreiro da luz, nunca tem pressa. O tempo trabalha a seu favor; ele aprende a dominar a impaciência, e evita gestos impensados. Andando devagar, nota a firmeza de seus passos. Sabe que participa de um momento decisivo da história da humanidade, e precisa mudar a si mesmo antes de transformar o mundo. Por isso lembra-se das palavras de Lanza del Vasto:
“uma revolução precisa de tempo para se instalar”.
Um guerreiro da luz nunca colhe o fruto enquanto ele ainda está verde.

Na velocidade certa

Um guerreiro da luz precisa de paciência e rapidez ao mesmo tempo. Os dois maiores erros de uma estratégia são: agir antes da hora, ou deixar que a oportunidade passe longe. Para evitar isto, o guerreiro trata cada situação como se fosse única, e não aplica fórmulas, receitas, ou opiniões alheias.
O califa Moauiyat perguntou a Omr Ben Al-Aas qual era o segredo de sua grande habilidade política:
“Nunca me meti em assunto sem ter estudado
previamente a retirada; por outro lado, nunca entrei e quis logo sair correndo”, foi a resposta.

Na tolerância certa

Um guerreiro da luz sempre mantém o seu coração limpo do sentimento de ódio. Quando caminha para a luta, lembra-se de que disse Cristo:
“ amai vossos inimigos”.
E o guerreiro obedece.
Mas sabe que o ato de perdoar não o obriga a aceitar tudo. Um guerreiro não pode abaixar a cabeça - senão perde de vista o horizonte de seus sonhos. O guerreiro nota que os adversários estão ali para testar sua bravura, sua persistência, sua capacidade de tomar decisões. São uma bênção - porque são eles que o obrigam a lutar por seus sonhos.
É a experiência do combate que fortalece o guerreiro da luz.

Da leitura certa

O guerreiro da luz conhece a importância de sua intuição. No meio da batalha, ele não tem tempo para pensar nos golpes do inimigo - então usa seu instinto, e obedece ao seu anjo. Nos tempos de paz, ele decifra os sinais que Deus lhe envia.
As pessoas dizem: “está louco”. Ou então: “vive num mundo de fantasia”. Ou ainda:” como pode confiar em coisas que não tem lógica?”
Mas o guerreiro sabe que a intuição é o alfabeto de Deus, e continua escutando o vento e falando com as estrelas.

Da escolha certa

“Sim”, o guerreiro escuta alguém dizer. “Eu preciso entender tudo, antes de tomar uma decisão. Quero ter a liberdade de mudar de ideia.”
O guerreiro olha com desconfiança esta frase. Também ele pode ter a mesma liberdade, mas isto não o impede de assumir um compromisso, mesmo que não compreenda exactamente porque fez isto.
Um guerreiro da luz toma decisões. Sua alma é livre como as nuvens no céu, mas ele está comprometido com seu sonho. Em seu caminho livremente escolhido, tem que acordar em horas que não gosta, falar com gente que não lhe acrescenta nada, fazer alguns sacrifícios. Os amigos comentam: “você se sacrifica a toa. Você não é livre.”
O guerreiro é livre. Mas sabe que forno aberto não cozinha pão.

Da renúncia certa

“Em qualquer actividade, é preciso saber o que se deve esperar, os meios de alcançar o objectivo, e a capacidade que temos para a tarefa proposta.
“Só pode dizer que renunciou aos frutos aquele que, estando assim equipado, não sente qualquer desejo pelos resultados da conquista, e permanece absorvido no combate.
“Pode-se renunciar ao fruto, mas esta renúncia não significa indiferença ao resultado”.
O guerreiro da luz escuta com respeito a estratégia de Gandhi. E não se deixa confundir por pessoas que, incapazes de chegar a qualquer resultado, vivem pregando a renúncia.

Lutando com quem ama

O guerreiro da luz as vezes luta com quem ama. Aprendeu que o silêncio significa o equilíbrio absoluto do corpo, do espírito, e da alma. O homem que preserva a sua unidade, jamais é dominado pelas tempestades da existência; tem forças para ultrapassar as dificuldades e seguir adiante. Entretanto, muitas vezes sente-se desafiado por aqueles a quem procura ensinar a arte da espada.
Seus discípulos o provocam para um combate. E o guerreiro mostra sua capacidade: com alguns golpes, lança as armas dos alunos por terra, e a harmonia volta ao local onde se reúnem.
“Por que fazer isto, se és tão superior?”, pergunta um viajante.
“Porque, desta maneira, mantenho o diálogo”, responde o guerreiro.


Paulo-Coelho-Guerreiros-da-Luz-Vol_2



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