segunda-feira, 15 de julho de 2013

Iluminação

ILUMINAÇÃO: ELEVAR-SE ACIMA DO PENSAMENTO


Pensar não é essencial para sobrevivermos neste mundo?
A sua mente é um instrumento, uma ferramenta. Existe para ser usada numa tarefa específica e, quando essa tarefa termina, põe-se de parte. Assim sendo, eu diria que cerca de 80 a 90 por cento do pensamento da maioria das pessoas é não só repetitivo e inútil, mas, devido à sua natureza disfuncional e muitas vezes negativa, é também muitas vezes prejudicial. Observe a sua mente e verá que isto é verdade. Provoca uma perda considerável de energia vital.
Esta espécie de pensamento compulsivo é, na realidade, um vício. O que é que caracteriza um vício? Muito simplesmente isto: você deixa de sentir que tem a opção de parar. Parece ser mais forte do que você. E dá-lhe igualmente uma falsa sensação de prazer, prazer esse que invariavelmente se transforma em dor.
Por que motivo seríamos nós viciados em pensar?
Porque você se identifica com o pensamento, o que significa que obtém a sua sensação de identidade a partir do conteúdo e da actividade da sua mente. Porque você acredita que deixaria de existir se deixasse de pensar. Ao crescer, você forma uma imagem mental da pessoa que é com base nos seus condicionamentos pessoais e culturais. Podemos dar o nome de ego a esse eu fantasma. Consiste na actividade da mente e só pode continuar a funcionar através do pensar constante. O termo ego significa diferentes coisas para dife-rentes pessoas, mas quando eu o uso aqui significa um falso eu, criado por uma identificação inconsciente com a mente.
Para o ego, o momento presente praticamente não existe. Apenas o passado e o futuro são considerados importantes. Esta total inversão da verdade explica o facto de a mente ser tão disfuncional quando está a funcionar como ego. O ego preocupa-se constantemente em manter vivo o passado, porque, sem ele, quem seria você? Projecta-se constantemente no futuro para garantir a continuidade da sua sobrevivência e para procurar aí algum tipo de libertação ou de satisfação. Ele diz: "Um dia, quando isto, ou aquilo, acontecer, eu vou sentir-me bem, feliz, em paz." E mesmo quando o ego parece preocupar-se com o presente, não é o presente que ele vê: distorce-o completamente porque o vê através dos olhos do passado. Ou então reduz o presente a um meio para alcançar um fim, fim esse que fica sempre no futuro que a mente projecta. Observe a sua mente e verá que é assim que funciona.
O momento presente possui a chave para a libertação. Mas você não poderá descobrir o momento presente enquanto você for a sua mente.
Não quero perder a minha capacidade de analisar e discriminar. Não me importaria de aprender a pensar de maneira mais clara, mais concentrada, mas não quero perder a minha mente. A capacidade de pensar é a coisa mais preciosa que possuímos. Sem ela, seríamos apenas uma outra espécie animal.
A predominância da mente não passa de um patamar na evolução da consciência.
Precisamos de chegar ao patamar seguinte agora, urgentemente; de outro modo, seremos destruídos pela mente, que se terá transformado num monstro. Falarei disto em pormenor mais adiante. O pensamento e a consciência não são sinónimos. O pensamento não passa de um pequeno aspecto da consciência. O pensamento não pode existir sem a consciência, mas a consciência não precisa do pensamento.
A iluminação significa elevar-se acima do pensamento e não descer a um nível abaixo do pensamento, ao nível de um animal ou de uma planta. No estado de iluminação, você continua a utilizar a sua mente e a pensar sempre que necessário, mas fá-lo-á de uma maneira muito mais concentrada e eficiente do que anteriormente. Utilizá-la-á principalmente para fins práticos, mas ficará livre do diálogo interior involuntário e conhecerá a quietude, interior. Quando usar a sua mente, e particularmente quando for necessária uma solução criativa, você oscilará frequentemente entre o pensamento e a quietude entre a mente e a ausência de mente. A ausência de mente é a consciência sem o pensamento. Só dessa maneira é possível pensar-se criativamente, porque só dessa maneira o pensamento terá verdadeiramente poder. O pensamento por si só, quando deixa de estar ligado ao reino muito mais vasto da consciência, torna-se rapidamente estéril, insensato e destrutivo.
A mente é essencialmente uma máquina de sobrevivência. Atacar e defender-se de outras mentes, reunir, armazenar e analisar informações – é nisso que ela é boa, mas não é de maneira nenhuma criativa. Todos os verdadeiros artistas, quer o saibam quer não, criam com base na ausência de mente, na quietude interior. Só posteriormente é que a mente dá forma ao impulso criativo ou à inspiração. Até os grandes cientistas dizem que os seus sucessos criativos aconteceram num momento de quietude mental. O resultado surpreendente de um inquérito, feito a nível nacional junto dos mais eminentes cientistas americanos, entre os quais Einstein, tendo em vista descobrir os respectivos métodos de trabalho, foi o de que o pensar "desempenha unicamente um papel secundário na fase breve, mas decisiva, do acto criativo em si1." Por isso, eu diria que a simples razão pela qual a maioria dos cientistas não é criativa não é por não saber pensar, mas por não saber como parar de pensar!
Não foi através da mente, através do pensamento, que foi criado e é mantido o milagre que é a vida na Terra ou no seu corpo. Existe claramente uma inteligência a reger este processo que é de longe maior do que a mente. Como pode uma única célula humana, que de largura mede um milionésimo de polegada, conter dentro do seu ADN instruções que dariam para encher 1000 livros de 600 páginas cada um? Quanto mais aprendemos sobre o funcionamento do corpo, mais compreendemos quão vasta é a inteligência que o rege e quão limitado é o nosso conhecimento. Quando a mente se liga novamente a essa inteligência, transforma-se numa ferramenta maravilhosa. Serve então algo maior do que ela.

Eckhart Tolle
O poder do agora p22/23

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