domingo, 19 de abril de 2015

O presente dos insultos


O presente dos insultos

Perto de Tokyo vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar o zen 
budismo aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer 
adversário. 
Certa tarde, um guerreiro - conhecido por sua  total  falta  de  escrúpulos  -  apareceu  por  ali.
Era famoso por utilizar a técnica da provocação: 
esperava  que seu adversário  fizesse o  primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos, contra atacava com velocidade fulminante. 
O jovem e impaciente guerreiro jamais havia  perdido  uma  luta.  Conhecendo  a  reputação 
do samurai, estava ali para derrota-lo, e aumentar sua fama. 
Todos os estudantes se manifestaram contra a ideia, mas o velho aceitou o desafio. 
Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou 
algumas  pedras  em  sua  direçao,  cuspiu  em  seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos - ofendendo  inclusive  seus  ancestrais.  Durante  horas fez tudo para provoca-lo, mas o velho permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se. 
Desapontados  pelo  fato  de  que  o  mestre aceitara tantos insultos e provocações, os alunos 
perguntaram: 
- Como o senhor pode suportar tanta indignidade?  Por  que  não  usou  sua  espada,  mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar-se covarde diante de todos nós?
- Se alguém chega  até você com um  presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente? 
- perguntou o samurai.
-  A  quem  tentou  entrega-lo  -  respondeu um dos discípulos.
- O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos - disse o mestre.
- Quando não são aceites, continuam pertencendo a quem os carregava consigo.

Paulo Coelho - Guerreiros da Luz (Vol. 2)

Sem comentários:

Enviar um comentário

O mistério da vida

 O mistério da vida não é um problema a resolver, mas uma realidade a experimentar, um processo que não pode ser entendido parando-o, devemo...